A medicina baseada em evidências não pode prescindir dos ensaios clínicos controlados randomizados, mas em alguns (raros) casos os resultados de certos tratamentos são tão evidentes que dispensam esses estudos. Um dos exemplos mais interessantes e curiosos é o tratamento dos hemangiomas capilares infantis com o propranolol.

Em 2008 a médica francesa Christine Léauté-Labrèze publicou uma carta ao editor do New England Journal of Medicine na qual relatava onze casos de sucesso no tratamento de crianças com esses hemangiomas. Até então, o tratamento preconizado eram os corticoides, e uma criança que ela tratava dessa forma desenvolveu uma miocardiopatia hipertrófica obstrutiva (uma doença cardíaca), e por isso foi medicada com um beta-bloqueador, o propranolol (uma medicação cardiológica). Para espanto dos médicos, já no dia seguinte o hemangioma havia mudado de coloração, de vermelho intenso para roxo, e amolecido. Mesmo com a redução do corticoide, o hemangioma continuou a melhorar. Ao completar 14 meses de idade, a criança tinha uma regressão quase completa do hemangioma.

Um segundo caso apresentou resultado igualmente dramático, e os médicos resolveram então solicitar permissão aos pais de outras 9 crianças para tentar esse tratamento, com resultados igualmente consistentes.

Os resultados desse grupo francês foram confirmados por diversos outros pesquisadores, e atualmente esse é o tratamento de escolha para esse tipo de hemangioma da infância.

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