Muitos tipos de vieses decorrem de falhas no desenho ou na condução dos ensaios clínicos. Entretanto, esse não é o caso do viés de publicação. Frequentemente, os próprios pesquisadores desistem de relatar os seus resultados negativos por acreditarem que não serão aceitos pelos periódicos. Estes últimos, por sua vez, muitas vezes têm uma clara tendência a publicar apenas resultados positivos. Como consequência, os trabalhos publicados podem não ser uma amostra representativa de todos os estudos realizados sobre o assunto, e isso impacta a capacidade das revisões sistemáticas de combinar adequadamente todas as evidências em uma determinada área de pesquisa.

Felizmente, ao contrário de outros tipos de vieses, o viés de publicação não precisa ser apenas inferido, mas algumas vezes pode ser detectado com a utilização de funnel plots (gráficos de funil). Nesses gráficos, o tamanho do efeito de um dado tratamento para cada ensaio clínico é relacionado com alguma medida do tamanho do ensaio, como a precisão, o erro-padrão, ou mesmo o tamanho total da amostra. Espera-se que os efeitos do tratamento em estudos pequenos tenham uma variabilidade maior do que aquela observada nos grandes ensaios clínicos. Na ausência de viés de publicação, esses gráficos realmente se assemelham a um funil.

Vejamos, por exemplo, um gráfico de funil sem sinais de viés de publicação, isto é, simétrico:

Neste gráfico, os resultados dos estudos maiores estão mais próximos da razão de chances real do tratamento, de 0,4. Entretanto, se os resultados de estudos menores sem significância estatística (círculos abertos) não forem publicados, o gráfico mostrará uma assimetria, indicando que houve viés de publicação:

A área vazia do lado direito da figura indica a presença de viés de publicação. Nessa situação, a metanálise terá valores calculados que tenderão a superestimar o efeito da intervenção. Quanto maior a assimetria, maior a probabilidade de que ocorra um viés substancial na metanálise.

Fonte: Cochrane Training Handbook: https://training.cochrane.org/handbook/archive/v6/chapter-13

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